Manhã cedo
ao primeiro sinal da alvorada
os números vão a correr
para a tabuada.
No intervalo das contas
os números contam e cantam
(histórias, canções).
Nunca ouvi dizer,
mas talvez algum número
apaixonado
esteja agora a desenhar
pequenos corações
numa folha de papel quadriculado.
À noite, os números
deitam contas à vida.
Depois adormecem, sonham
com a desordem numérica
e com as mais belas letras
do alfabeto.
Os números doentes
sujeitam-se a várias operações
que, se não forem bem feitas,
dão sempre mau resultado.
Há números que são primos
doutros números
e outros tão amigos
que vão de mãos dadas
para as equações.
O zero não tem valor
se não tiver alguém ao lado
(vale menos estar sozinho
do que mal acompanhado?).
Como as sementes, na terra
e as estrelas, no ar,
os números não pensam.
Mas dão que pensar!
Enquanto resolves o problema
Olhas pela janela da sala
e lá fora passa a vida
-esse problema.
Álvaro Magalhães, O reino perdido
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